terça-feira, 17 de junho de 2008
Devaneio
E o coração pode cegar a mente
Mas a chave para o coração de outras pessoas é o seu coração. Sozinho.
É bom que sua mente saiba disso.
Ricardo Oliveira
A Teia
Ela faz a teia.
Alguém passa, derruba, acaba com sua casa, e ela refaz a teia.
Ela protege a vida e a casa. Teme pela sua vida
Ela não se preocupa em saber o que fazer, ela sabe. Sempre.
Ela não tem dúvidas. Ela não pensa. Ela não raciocina igual a seres humanos.
Esses sim têm dúvidas. Esses sim agem com base em um raciocínio lógico. Agem com um pensamento normalmente relacionado a algo que não só será bom pra eles. Tentam na maioria das vezes pensar em um conjunto, tanto pro bem ou pro mal. Isso é a vida em sociedade.
Uma aranha é solitária. Só tem a sua prole e depois não cuida mais dos seus filhos. Não possui glândulas mamárias que irão amamentar os filhos. No máximo as carrega por um tempo até sua cria poder ter sua independência para viver livre da mãe.
Mas apesar de a aranha viver a maior parte de sua vida solitária, cuida com toda sua força da sua casa.
Da sua complexa rede de fios interconectados. Porque se uma ligação for desfeita, a teia não é mais a mesma. E ela vai e refaz.
Mas quando cai um inseto na teia, e ela se desfaz em parte? A aranha fica feliz, porque ela sabe que tem que comer.
Mesmo estando aquelas ligações desfeitas temporariamente, ela sabe que sua casa não vai deixar de ser a mesma por causa disso. Ela irá reparar com toda sua perícia os mínimos buracos que foram feitos. Os fios mais grossos, que são a base da teia, serão provavelmente os menos afetados com o impacto. Os outros fios secundários serão mais facilmente reparados pois são mais finos. A aranha consegue, portanto, reparar aquilo que é de maior importância para sua sobrevivência, mesmo que tudo vá por água abaixo. Literalmente.
A vida humana é um pouco mais complicada. Estamos sujeitos, a toda hora, a mudar a configuração daquilo que é mais importante pra nós: a nossa teia de relacionamentos.
Temos os fios que fazem parte das nossas conexões familiares, que são os mais fortes, os primeiros que colocamos na nossa vida. São eles que nos darão base para sustentar todo o resto da teia.
Temos também os fios mais grossos mas que não fazem parte da base da teia. Esses serão mais difíceis de se conseguir estabilizar, de se consquistar. São os que se tornam mais grossos ao passar do tempo. São os fios da amizade.
Os outros fios serão os mais vulneráveis, onde até um vento leve pode os desfazer.
Esses são os que nos fazem ter dúvidas, mas não necessariamente são os menos importantes.
Apesar de às vezes sentirmos que um desses fios leves pode vir a ser um fio grosso, se fore de grande importância para a teia, não deixamos de hesitar antes de termos a certeza de querer torná-lo mais importante e mais grosso para nós.
Pois, ao contrário das aranhas, não fazemos teias de acordo com a nossa necessidade de sobrevivência.
Nossa teia não tem o objetivo de ser impecável. Tem o objetivo de ser confiável, mesmo que seja composta pelo mínimo de fios. Procuramos estabilidade. Mas para isso, temos que tentar ampliar essa rede o máximo possível para ver em quais pontos esta teia tem de ser fortalecida.
Procuramos a estabilidade. E a melhor forma para isso é a comunicação e a desestabilização quando estamos na nossa fase jovem da vida. Porque se crescermos sem ter passado por essa fase de desestabilidade emocional, não teremos força para segurar e refazer a teia quando quisermos, quando formos velhos.
Não teremos mais a instabilidade necessária para testarmos nossa teia.
A dúvida e a instabilidade são coisas necessárias.
A instabilidade não é um sinal de fraqueza emocional. É um sinal de coragem para lidar com o crescimento da nossa teia.
Apesar de a instabilidade aparentemente levar à solidão, fazemos teias a partir dela para não ficarmos sozinhos no mundo.
Ricardo Oliveira
Sonhador
Antes com sono pesado
Agora com sono leve
Vejo o mundo com clareza
Mas uma clareza que parece me ofuscar
Antes via outro mundo
Com a clareza que eu poderia controlar
Tenho me preocupar apenas com uma coisa
Cuidar para que essa clareza
Não me impedirá de forma alguma
De ter meu mundo no qual só há certeza
Poderia ter medo de dormir um dia
E nunca mais acordar
Pois sou sonhador de nascença
Mas agora tenho controle do meu despertar
Ricardo Oliveira
A inevitável luta contra nós mesmos.
Acordamos, vamos ao espelho.
Vemos nossa cara. Aquela mesma com a qual temos que conviver. Cada dia mais velha.
É então que lembramos quem somos. Lembramos que somos controladores dos nossos próprios atos. "Eu sou eu" é a frase que vem à cabeça, quase sempre muito assustadora.
Engraçado pensarmos assim após vermos que somos construtores de uma vida. Pensar que nós escolhemos nossos rumos e cabe a nós o desejo de realizar tudo que achamos importante. É complexo.
Fazemos coisas que nunca imaginamos que faríamos, pensamos coisas que parecem estar muito além da capacidade compreensível de qualquer outra pessoa, percebemos imagens únicas de um ângulo do qual nenhuma outra pessoa nunca poderia perceber.
É aí que a frase "Eu sou eu" troveja em nosso cérebro. Estamos orgulhosos por aquilo que o ser humano é capaz de produzir em sua mente, pelo que vivenciamos, experimentamos.
O que aprendemos é apenas reproduzido em forma de lembrança na nossa cabeça e tudo que temos que fazer é ouvir nossa mente. Ouvir o que ela tem a nos dizer.
Somos inimigos de nós mesmos.
A mente aprisiona. Mas só quando a gente quer.
A mente confunde, mas só quando a gente se convence de que tudo é complicado.
A mente nos dá a capacidade de compreender, mas só quando queremos.
Devemos valorizar aquilo que faz com que nossa mente perca a batalha, quando fugimos da razão. Fica o conselho:
Amem.
Amém.
Ricardo Oliveira
O Centro
Às vezes nós achamos que somos o centro.
Claro que somos.
Isso não é óbvio?
Porque mais TUDO aconteceria com a gente? Na hora que chega a nossa vez na fila, a moça troca o rolo de papel da caixa registradora.
Nossa turma na escola é sempre a mais bagunceira, ou então a mais certinha.
Nossos amigos são sempre os mais legais, ou os mais estranhos, ou os mais chatos ou os três juntos.
Nossa família é sempre a mais estranha, ou então a mais comum, mas ao mesmo tempo a mais interessante.
Nossas esperanças e desejos, em termos de complexidade e profundidade, parecem estar anos luz à frente de qualquer outro pensamento.
Acreditamos que nossas idéias são sempre melhores que as dos outros, mesmo respeitando divergências de pensamento.
O mundo parece girar ao nosso redor, quando na verdade estamos apenas fazendo parte do giro.
E esse giro é imperceptível por motivos físicos que aqui não cabem explicar.
Entretanto, inserindo a física na poesia, podemos analisar a nossa incapacidade de perceber o giro do planeta como um artifício que nos protege de tentar compreender a complexidade do mundo.
Achamos que tudo gira ao nosso redor pois, às vezes, não percebemos que, se tudo acontecesse conosco, nossa vida seria um caos.
Por isso, achar que o mundo gira ao nosso redor, apesar de parecer algo extremamente egocêntrico, é, na verdade, acreditar na simplicidade.
Até mesmo o centro nervoso, que nos faz às vezes ser egocêntrico, não representa o centro do nosso corpo, pois faz parte de uma extremidade.
Fujamos do centro.
Sejamos pessoas com pensamentos extremos, mas não extremistas.
Extremos o suficiente para causar uma mudança no giro da terra, para que todos nos ouçam.
Extremos o suficiente para não ter medo de expor nossas idéias.
Mas sensíveis o suficiente para procurar meios nos quais nossas idéias possam vagar pelo mundo sem atingir exclusivamente os centros.
Atinjamos não apenas o centro, mas tudo.
As extremidades e as superfícies.
Pois atingindo as extremidades, o centro obviamente será sensibilizado.
Comamos pelas bordas, pois o tempo de ingerir e digerir o centro chegará.
O centro do mundo não existe nem fisicamente já que a terra não é redonda.
O centro é lenda.
Palavra de leonino.
Ricardo Oliveira
domingo, 15 de junho de 2008
Diálogo Com o Espelho
Espero q gostem.
Diálogo com o Espelho
Aquele no espelho não sou eu.
Será que eu seria capaz de ser tão bobo de pensar que aquele no espelho sou eu?
Não, não. Não!!! Não poderia ser eu.
Aquilo é uma imagem.... sim... agora eu entendo.
O reflexo de mim está lá no espelho! Mas... não... isso também seria afirmar que sou eu no espelho.
Eu não estou no espelho, eu estou aqui! Vivo! Eu sou EU!
(Um tempo para refletir. O espelho reflete a imagem enquanto eu reflito sobre os meus pensamentos)
Matei! Já sei! Aquele no espelho pode ser uma das minhas imagens.
Mas não é a única imagem de mim, não, não. Talvez seja a menos importante delas.
Olha, tem uma espinha nascendo na minha testa. E daí?
Até o espelho é capaz de me dizer isso.
O espelho não me dá conselhos quanto a usar remédios para acabar com a espinha.
O espelho não me diz se sou bonito ou não. Ele apenas reflete.
O conceito de beleza está embutido em mim, em todos nós, pelos "padrões”.
O espelho é apenas uma superfície.
Uma superfície superficial.
Um pleonasmo, assim como a imagem que reflete.
Uma réplica da forma visual.
Necessária ao bem-estar das pessoas.
O que ninguém percebe é a diferença entre se olhar em um espelho e os outros te olharem.
Aos olhos de um bom observador, tudo é interessante.
Existem "pessoas-espelho", que nada mais fazem além de refletir os padrões.
Não são pessoas.
Nesse caso, foram reduzidas à bonecas ou manequins.
Não têm capacidade de sentir algo que seja capaz de atravessar esse espelho.
E, como sempre disse o clichê, o amor ultrapassa barreiras.
E o amor, esperto como ele só, não é refletido no espelho.
Ele vai além, e se for verdadeiro, não sofre nem desvios ao atravessar a superfície primária.
Se o espelho fosse tão importante assim, estaria na parte de fora do armário, e não na parte de dentro.
O espelho torna-se inútil.
E a alma se confunde com a imagem.
Não tem coisa mais pura que isso.
Ricardo Oliveira