15/11/2006 13:41
Ela faz a teia.
Alguém passa, derruba, acaba com sua casa, e ela refaz a teia.
Ela protege a vida e a casa. Teme pela sua vida
Ela não se preocupa em saber o que fazer, ela sabe. Sempre.
Ela não tem dúvidas. Ela não pensa. Ela não raciocina igual a seres humanos.
Esses sim têm dúvidas. Esses sim agem com base em um raciocínio lógico. Agem com um pensamento normalmente relacionado a algo que não só será bom pra eles. Tentam na maioria das vezes pensar em um conjunto, tanto pro bem ou pro mal. Isso é a vida em sociedade.
Uma aranha é solitária. Só tem a sua prole e depois não cuida mais dos seus filhos. Não possui glândulas mamárias que irão amamentar os filhos. No máximo as carrega por um tempo até sua cria poder ter sua independência para viver livre da mãe.
Mas apesar de a aranha viver a maior parte de sua vida solitária, cuida com toda sua força da sua casa.
Da sua complexa rede de fios interconectados. Porque se uma ligação for desfeita, a teia não é mais a mesma. E ela vai e refaz.
Mas quando cai um inseto na teia, e ela se desfaz em parte? A aranha fica feliz, porque ela sabe que tem que comer.
Mesmo estando aquelas ligações desfeitas temporariamente, ela sabe que sua casa não vai deixar de ser a mesma por causa disso. Ela irá reparar com toda sua perícia os mínimos buracos que foram feitos. Os fios mais grossos, que são a base da teia, serão provavelmente os menos afetados com o impacto. Os outros fios secundários serão mais facilmente reparados pois são mais finos. A aranha consegue, portanto, reparar aquilo que é de maior importância para sua sobrevivência, mesmo que tudo vá por água abaixo. Literalmente.
A vida humana é um pouco mais complicada. Estamos sujeitos, a toda hora, a mudar a configuração daquilo que é mais importante pra nós: a nossa teia de relacionamentos.
Temos os fios que fazem parte das nossas conexões familiares, que são os mais fortes, os primeiros que colocamos na nossa vida. São eles que nos darão base para sustentar todo o resto da teia.
Temos também os fios mais grossos mas que não fazem parte da base da teia. Esses serão mais difíceis de se conseguir estabilizar, de se consquistar. São os que se tornam mais grossos ao passar do tempo. São os fios da amizade.
Os outros fios serão os mais vulneráveis, onde até um vento leve pode os desfazer.
Esses são os que nos fazem ter dúvidas, mas não necessariamente são os menos importantes.
Apesar de às vezes sentirmos que um desses fios leves pode vir a ser um fio grosso, se fore de grande importância para a teia, não deixamos de hesitar antes de termos a certeza de querer torná-lo mais importante e mais grosso para nós.
Pois, ao contrário das aranhas, não fazemos teias de acordo com a nossa necessidade de sobrevivência.
Nossa teia não tem o objetivo de ser impecável. Tem o objetivo de ser confiável, mesmo que seja composta pelo mínimo de fios. Procuramos estabilidade. Mas para isso, temos que tentar ampliar essa rede o máximo possível para ver em quais pontos esta teia tem de ser fortalecida.
Procuramos a estabilidade. E a melhor forma para isso é a comunicação e a desestabilização quando estamos na nossa fase jovem da vida. Porque se crescermos sem ter passado por essa fase de desestabilidade emocional, não teremos força para segurar e refazer a teia quando quisermos, quando formos velhos.
Não teremos mais a instabilidade necessária para testarmos nossa teia.
A dúvida e a instabilidade são coisas necessárias.
A instabilidade não é um sinal de fraqueza emocional. É um sinal de coragem para lidar com o crescimento da nossa teia.
Apesar de a instabilidade aparentemente levar à solidão, fazemos teias a partir dela para não ficarmos sozinhos no mundo.
Ricardo Oliveira
terça-feira, 17 de junho de 2008
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Um comentário:
A natureza deve se preservada pelo menos para que possamos traçar paralelos tão belos entre ela e a nós, concorda? É sempre um belo devaneio abstrair observado o natural. Parabéns pelo blog!
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