terça-feira, 17 de junho de 2008

O Centro

Às vezes nós achamos que somos o centro.
Claro que somos.
Isso não é óbvio?
Porque mais TUDO aconteceria com a gente? Na hora que chega a nossa vez na fila, a moça troca o rolo de papel da caixa registradora.
Nossa turma na escola é sempre a mais bagunceira, ou então a mais certinha.
Nossos amigos são sempre os mais legais, ou os mais estranhos, ou os mais chatos ou os três juntos.
Nossa família é sempre a mais estranha, ou então a mais comum, mas ao mesmo tempo a mais interessante.
Nossas esperanças e desejos, em termos de complexidade e profundidade, parecem estar anos luz à frente de qualquer outro pensamento.
Acreditamos que nossas idéias são sempre melhores que as dos outros, mesmo respeitando divergências de pensamento.
O mundo parece girar ao nosso redor, quando na verdade estamos apenas fazendo parte do giro.
E esse giro é imperceptível por motivos físicos que aqui não cabem explicar.
Entretanto, inserindo a física na poesia, podemos analisar a nossa incapacidade de perceber o giro do planeta como um artifício que nos protege de tentar compreender a complexidade do mundo.
Achamos que tudo gira ao nosso redor pois, às vezes, não percebemos que, se tudo acontecesse conosco, nossa vida seria um caos.
Por isso, achar que o mundo gira ao nosso redor, apesar de parecer algo extremamente egocêntrico, é, na verdade, acreditar na simplicidade.
Até mesmo o centro nervoso, que nos faz às vezes ser egocêntrico, não representa o centro do nosso corpo, pois faz parte de uma extremidade.
Fujamos do centro.
Sejamos pessoas com pensamentos extremos, mas não extremistas.
Extremos o suficiente para causar uma mudança no giro da terra, para que todos nos ouçam.
Extremos o suficiente para não ter medo de expor nossas idéias.
Mas sensíveis o suficiente para procurar meios nos quais nossas idéias possam vagar pelo mundo sem atingir exclusivamente os centros.
Atinjamos não apenas o centro, mas tudo.
As extremidades e as superfícies.
Pois atingindo as extremidades, o centro obviamente será sensibilizado.
Comamos pelas bordas, pois o tempo de ingerir e digerir o centro chegará.
O centro do mundo não existe nem fisicamente já que a terra não é redonda.
O centro é lenda.
Palavra de leonino.



Ricardo Oliveira

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